Pintura de Domingos Oliveira
"Nunca te ouvi cantar.
Disseste-me que cantavas tão bem quando ias para o campo com o gado.
Quando, nas manhãs de inverno, partias o gelo que cobria o tanque
onde lavavas a roupa dos patrões,
tu cantavas.
Quando punhas ao domingo a tua saia preta
e o avental branco pintado de alegrias e rosas,
tu cantavas.
Só eu nunca te ouvi cantar.
Quem te roubou a alegria de viver?
Ou será, que a guardaste na talha dos sonhos e nunca mais te lembraste?
Só eu nunca te ouvi cantar.
Canta para mim.
Nem que seja a última vez, canta para mim.
Porque eu nunca te ouvi cantar."
in "Infância de Pedras" de Domingos Oliveira / Poesias
Sem comentários:
Enviar um comentário